Presente em pelo menos 13 bairros de Santa Maria, o Arroio Cadena convive com descarte irregular de lixo, construção de moradias irregulares, retirada da mata ciliar, despejo de todo o esgoto pluvial da cidade e do esgoto sanitário não coletado pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). Muitos desses fatores causam o mau cheiro do arroio, que passa por 14 km dentro da área central da cidade. Foi o incomodo dos moradores que resultou no projeto Cadena Vive, da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Pão dos Pobres, que orienta alunos de 15 a 17 anos em visitas de observação em torno do arroio.
A ideia nasceu em 2019, durante a disciplina de geografia do professor Marcelo Bêz, para as turmas do Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em aulas práticas, os alunos que moram em bairros próximos ao Cadena reclamavam do descaso e mau cheiro, mas relatavam que mesmo assim ele continuava “vivo”, com a presença de alguns peixes. Foi dessa forma que surgiu o nome do projeto Cadena Vive, que estimula o pensamento crítico dos alunos, e como agir para não ser indiferente ao problema, como explica o professor:
– O nosso principal objetivo é educar e conscientizar. A gente faz com que eles entendam que um rio faz parte do nosso planeta como as veias que fazem com que o sangue flua pelo nosso corpo. E que entendam que quando afetam um rio, estão afetando a eles mesmos. Precisamos mudar esse olhar para o Cadena, mas também para eles, como moradores dos bairros.
Foto: Eduardo Ramos
Em sala de aula, o professor ensina conceitos para preparação dos alunos antes das saídas a campo, como bacia hidrográfica, tipos de rios, tratamento de esgoto e relevos, e também assuntos relacionados aos resíduos, como os tipos de lixo, consumo consciente, o que é um aterro sanitário e a ideia de desenvolvimento sustentável. O grupo atual reúne alunos das turmas 3 e 4 da EJA, com cerca de 12 alunos, engajados em mudar o pensamento e práticas da população.
No olhar do professor, a conscientização ambiental é o passo mais importante para a mudança de hábitos da população. Apesar de ser um trabalho a longo prazo, é preciso preparar as novas gerações para que tenham responsabilidade com o ambiente em que vivem.
No olhar dos alunos
Fotos: Eduardo Ramos (Diário)
Nas idas a campo, os alunos contam com a ajuda de algumas ferramentas como celular e mapa, para registrar os focos de lixo, esgoto e demais irregularidades. Nos relatos deles, cada um se sensibiliza de uma forma, observando a falta de escoamento, o acúmulo de lixo e o descaso. Para o estudante Kauê Peters Cavalheiro, de 15 anos, os aspectos mais preocupantes são o estreitamento do curso do arroio e os animais tentando a sobrevivência:
– Às vezes a gente olha pro Cadena e dá um desânimo, e gente não tem mais vontade de ajudar o Cadena. Mas a gente vê que tem animal ali tentando sobreviver no meio do lixo, e então volta a animação para ajudarmos o Cadena, e pensando que vai melhorar pra gente também – reflete o aluno.
Já outros são movidos pela indignação de anos de descaso, e chamam a responsabilidade para si próprios, na busca de melhoria para o Arroio, como o Gean Allas Carvalho, de 15 anos:
– O problema é nosso, é nós mesmo que jogamos lixo, nós mesmos que estamos sujando o meio ambiente. Nós tínhamos que resolver esse problema todo mundo junto, não colocando lixo no Arroio Cadena, e não só no arroio, mas também nas praças, no colégio e nas ruas, e sim colocar na lixeira.
Após as visitas, os alunos precisam elaborar um relatório, que pode ser escrito, falado ou desenhado, para registrar a realidade observada naquele dia. O trabalho é feito para que, ao final do semestre, os alunos possam comparar a perspectiva deles conforme o passar dos meses, para ver se houve evolução ou não do cuidado com o Arroio.
Leia também:
Arroio Cadena: o curso de água mais importante da cidadeDeni Zolin: por que o Cadena não poderia ter uma ecobarreira para retirar o lixo, como existe em Porto Alegre?Contratos de coleta de lixo são renovados por 90 dias, e lançamento de nova licitação é adiado por 30 dias
Próximos passos
A próxima visita ao Cadena vai ser realizada em outubro, e contará com a presença do geógrafo Fernando Floresta, pesquisador do mais importante curso de água de Santa Maria, que ensinará e guiará os alunos.
Outra ideia é a elaboração de um questionário para participação dos moradores da região, com objetivo de comparar as respostas e visão da população com o Arroio, para comparação com os fatos observados pelos alunos.
Leia mais notícias